12 de novembro de 2016

Lição 7: Quando o legalismo substitui a adoração
Data: 13 de Novembro de 2016

O que é ser legalista?
Ser legalista é defender que, em qualquer tipo de contexto ou situação, as regras e normas de determinado grupo precisam ser cumpridas, pois tais mandamentos são mais importantes que as pessoas. Desta forma, um legalista não terá crise de consciência alguma se, para efetuar a plena execução de um certo princípio, tiver de ferir ou machucar pessoas. A lei torna-se mais importante que o amor. É claro que é muito mais fácil trabalhar com a lei do que com o amor. A lei é objetiva, com as devidas exceções registradas, o cumprimento ou descumprimento da mesma carrega consigo as inevitáveis consequências. O amor opera com outras categorias – com isso não se está defendendo aqui que o amor é anômico, caótico, permissivo, e sim que a lei é muito pequena para espelhar o amor –, com outras características e procedimentos, tais como, a graça, a misericórdia e o perdão.

INTERAÇÃO


Prezado(a) professor(a), chegamos à metade de nosso trimestre. Momentos como este são sempre propícios para realizarmos avaliações, autocríticas e, se necessário, mudanças de atitudes. Por isso, faça a si mesmo perguntas como: Minhas aulas são motivacionais ou monótonas? Minha linguagem e didática são adequadas para o nível de meus educandos? Sou um ótimo educador para o tipo de jovens do século passado ou consigo transmitir os princípios da Palavra de Deus de maneira clara para os jovens de hoje?

Partindo das respostas, que você também pode obter por meio de uma consulta aos próprios educandos, desde que seja algo feito com naturalidade e espontaneidade por eles - numa conversa informal antes ou depois da exposição do conteúdo, por meio de uma pesquisa por escrito —, continue as ministrações das aulas tendo como foco principal fazer dos instantes destes encontros momentos de crescimento pessoal e espiritual para cada jovem.

I. O SURGIMENTO DO LEGALISMO NO ANTIGO TESTAMENTO

1. Da institucionalização ao legalismo. 
Como estudamos na última aula, com o enorme crescimento do povo de Israel e com o início de sua jornada de retorno à Canaã, a adoração e o louvor dos judeus tiveram que passar por um processo de organização para melhor desenvolvimento (Êx 19.3-6). Todavia, rapidamente propagou-se a prática legalista, ou seja, ao invés do povo cumprir as ordenanças divinas por amor e obediência ao Senhor, parte do povo passou a executar os mandamentos de maneira mecânica e vazia de intencionalidade ou, pior ainda, por puro interesse (Nm 14.1-37). Nem toda institucionalização causa legalismo, mas todo legalismo é destruidor em qualquer tipo de relacionamento, especialmente entre os adoradores e Deus.

2. O legalismo como causa da tragédia na família de Eli
Um dos primeiros exemplos bíblicos de como o legalismo pode destruir uma família inteira é o caso da família de Eli (1Sm 2-4). Os filhos de Eli não respeitavam as ofertas e espaços sagrados em Israel (1Sm 2.12-17,22-25), eram homens de Belial (1Sm 2.12). Diante desta situação Deus usa tanto um profeta anônimo (1Sm 2.27-36), como o adolescente Samuel (1Sm 3.15-18) para declarar aos ouvidos do próprio Eli a indignação de Deus com a situação, todavia, nada mudou. O momento mais patente do legalismo da casa de Eli foi quando seus filhos transportaram a arca da aliança do Senhor para o meio do campo de batalhas com a intenção de vencerem uma guerra contra os filisteus (4.3-5). Houve uma comoção geral entre os guerreiros, isto, entretanto era pura ilusão. Deus não era a arca, muito menos estava preso dentro dela! Acreditar que venceriam a guerra simplesmente por terem trazido o objeto sagrado era puro legalismo; o resultado não podia ser outro: derrota, extermínio do povo, morte da família sacerdotal e rapto da arca (4.11-22).

3. A denúncia do legalismo nos discursos dos profetas. 
O Antigo Testamento está repleto de discursos denunciando esta prática de uma religiosidade de fachada. Logo no primeiro capítulo de sua profecia, Isaías denuncia a hipocrisia religiosa daquele povo (Is 1.11-23) e apesar deles cumprirem várias ações cerimoniais, nenhuma delas era agradável ao Senhor. Já em Ezequiel 8.1-18, Deus revela ao profeta, através de uma visão cheia de símbolos, a espiritualidade decadente travestida de piedade daquela geração. Em Amós 5.21-23, o profeta, que há pouco denominou ironicamente a classe opressora de “vacas de Basã”, declara que o simples cumprimento de cerimônias religiosas não isentava o povo de Deus de sua responsabilidade social com os pobres e oprimidos. Religião que declara servir a Deus, mas é incapaz de servir ao próximo, é puro legalismo.

Pense!

O excesso de cuidado no conhecimento e cumprimento de determinadas normas e regras religiosas pode nos levar a esquecer qual deve ser a finalidade maior destas: auxiliar-nos a diariamente tornarmo-nos a imagem e semelhança do Pai.


Ponto Importante

Se sua fé tem se reduzido a mera observância de regras, de tal forma que sua relação com Deus já abandonou um caráter filial, por meio de seu amor integral e desinteressado ao Pai, e tem se tornado algo legal — onde você exige dEle as recompensas de sua suposta obediência — você tornou-se legalista.

II. A LUTA CONTRA O LEGALISMO NA IGREJA PRIMITIVA

1. O legalismo como herança do farisaísmo na Igreja Primitiva. 
O cristianismo, apesar de ter rapidamente atingido o mundo gentio, especialmente através de Paulo, teve em seu surgimento forte adesão de judeus. Uma das mais tradicionais seitas judaicas daquele momento histórico eram os fariseus (literalmente, “separados”). A característica marcante deste grupo era a rigidez com que eles cumpriam a Lei (Mt 23.23), chegavam até a exceder-se no cumprimento de alguns pontos dela (Lc 18.12). Quando esse conjunto de pessoas ingressou no cristianismo, trouxe junto suas tradições legalistas, dentre as quais estava a circuncisão para os cristãos não-judeus, assim como o cumprimento de todo o restante da Lei. É claro que o conjunto de exigências deste grupo de novos convertidos colidia diretamente com o discurso da graça, do amor e da misericórdia, proposto e vivenciado por Jesus e os seus discípulos (Mt 9.13).

2. A rejeição do legalismo entre os primeiros cristãos. 
Não houve negociação entre os líderes da Igreja Primitiva. O legalismo deveria ser radicalmente rejeitado. Os apóstolos ratificaram que a salvação é obra exclusiva da morte vicária de Jesus e que por isso nenhum fardo deveria ser posto sobre os irmãos gentios. O Cristianismo já nasceu com a pretensão de acolher toda a humanidade; deste modo não era simplesmente mais uma seita judaica e por isso não necessitava submeter-se às tradições culturais daquele povo. Paulo, em vários momentos de seu ministério, denunciou a inutilidade do legalismo dos judaizantes — judeus convertidos ao cristianismo que exigiam dos gentios o cumprimento de práticas culturais e cerimoniais do judaísmo para garantir-lhes a salvação (Gl 2.14-17; Fp 3.1-3; Cl 2.16-23; Tt 1.10-16).

3. As distorções teológicas do legalismo. 
O legalismo, no intuito de desenvolver uma piedade comprometida, cria sérios problemas doutrinários. Por exemplo, se alguém condiciona a salvação a algo além do sacrifício de Jesus — rituais (Mt 15.1-9), obediência a normas humanas (Gl 5.1-6), boas obras (Ef 2.8-10) — essa pessoa está usurpando a centralidade de Cristo na obra salvífica. O legalista, arrogantemente, entende-se como alguém apto para julgar a espiritualidade dos outros (Tg 4.12). Não devemos ser juízes de ninguém (Lc 6.37), só há um Juiz (Is 33.22; Jr 11.20), nossa missão é ser suporte para os mais fracos (Rm 14.1-23). O legalismo transforma a ética cristã, encarnação histórica do amor (Mt 7.12), em um conjunto vazio de cumprimento de regras que para nada serve (Mc 7.7-9).


Pense!

Você é um legalista? O legalista, arrogantemente, entende-se como alguém apto para julgar a espiritualidade dos outros.


Ponto Importante

Misericórdia para com os doentes espiritualmente não significa conivência com seus atos.


III. COMO SUPERAR O LEGALISMO

1. Retornando a centralidade de Cristo em nossa fé. 
Não existem amuletos mágicos (sal, copo com água, arca da aliança) ou rituais de invocação da divindade (sete vigílias, sete salmos, sete hinos de sangue) no Cristianismo. O centro de nossa fé é Cristo Jesus (Cl 1.27). O legalismo somente será superado quando, sem medo algum, voltarmos a pregar e viver a mais simples verdade do Evangelho: a morte e ressurreição de Cristo é a garantia da nossa salvação (Rm 8.31-39). Se for salvo, vivo para Ele (Fp 1.21); se congrego numa Igreja é para aperfeiçoamento do “corpo” dEle (do qual eu faço parte — Ef 4.12,13); se pratico boas ações é para que o nome dEle seja glorificado (1Pe 2.11,12). Não devemos ter medo de supostas maldições ou “retaliações divinas”, Cristo não é Baal — um deus melindroso — Ele nos ama e tudo que Ele faz é para abençoar-nos (Ef 1.3-10).

2. Amando mais as pessoas que a religião. 
Cristianismo não é religião — cheia de protocolos e cerimônias — antes é relacionamento puro, direto e genuíno com Deus. Se em alguma circunstância da vida você estiver diante de um suposto dilema entre salvar a vida de alguém ou cumprir uma regra religiosa, não pense duas vezes, salve a vida desta pessoa. Porque alguém deve fazer isso? 1) Por que em seu lugar Cristo faria o mesmo, na verdade Ele já fez (Jo 5.1-15; 8.1-11); 2) Porque o cerne do cristianismo não é cumprir regras, mas amar a Deus, amando a si mesmo e as pessoas ao nosso redor; 3) Algumas religiões fazem guerra e matam pessoas, Jesus veio para dar a sua vida e ninguém foi capaz de convencê-lo do contrário (Jo 10.17,18).

3. Vivenciando a liberdade proporcionada pelo Espírito de Deus.
 A Bíblia é clara: onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade (2 Co 3.17). Somos livres do pecado, livres para adorar a Deus e para ter uma vida santa, e servir de exemplo ao mundo daquilo que Deus pode fazer na vida de um ser humano.


Pense!

Adoração não é reprodução mecânica de palavras ou ações.


Ponto Importante

Adoração não produz ódio. Alguém por ignorância pode não gostar de nossa fé ou até mesmo de nós, todavia, nosso louvor a Deus nunca pode ser fonte de discriminação ou maldade.


CONCLUSÃO

O legalismo é uma antiga doença que tenta atacar o povo de Deus. Desde o Antigo Testamento até nossos dias a sedução de fazer da fé um aglomerado de proibições, prescrições e juízos é algo tanto real quanto perigoso. Por isso, devemos cada vez mais nos empenharmos para desenvolver um relacionamento vivo, íntimo e pessoal com Deus, livre o suficiente para expressarmos a sinceridade de nossos corações.

HORA DA REVISÃO

1. A partir dos seus conhecimentos e das discussões em sala de aula defina o que é legalismo.
Pode-se definir legalismo como sendo a postura religiosa que privilegia o cumprimento de regras e normas como caminho para a obtenção de bênçãos da divindade, inclusive a salvação.

2. Apresente episódios bíblicos onde fica bastante claro a manifestação de uma religiosidade legalista (No mínimo dois no AT e outros dois no NT).
AT — Precipitação dos Filhos de Eli (1Sm 2-4); Contemporâneos de Amós (Am 5); NT — Discussões no Concílio de Jerusalém (At 15); Judaizantes nas igrejas da Galácia (Gl 2).

3. Que tipos de problemas ou contradições de natureza teológica o legalismo pode trazer?
Defesa da salvação a partir da obediência a regras humanas; distorção dos princípios éticos; divisão das pessoas entre puros e impuros segundo as normas da religião.

4. Como podemos superar o legalismo?
Resposta Pessoal. (Sugestão: criação de regras quanto a tipos específicos de ritmos ou canções na igreja).

5. Que ações podem ser tomadas para combater a espiritualidade legalista?
Retornando a centralidade de Cristo em nossa fé; Amando mais as pessoas que a religião; Vivenciando a liberdade proporcionada pelo Espírito de Deus.


   Lições Bíblicas CPAD 2016 
Título: Em Espírito e em verdade — A essência da adoração cristã
Comentarista: Thiago Brazil

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