2 de dezembro de 2009

A respeito da Adoção

1.
Sob a perspectiva bíblica, o homem e a mulher são criaturas de Deus, e não filhos de Deus. Para se tornarem filhos de Deus, eles precisam ter uma relação muito mais estreita com o Senhor. O Evangelho de João não poderia ser mais explícito sobre o assunto: “[Jesus] veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.11-12). Antes da fé salvadora, eles são apenas criaturas de Deus; depois, são criaturas e filhos de Deus.
2.
No sentido jurídico, adoção é o ato de alguém receber uma criança como seu próprio filho. É o caso da princesa egípcia que adotou o terceiro filho de Joquebede quando o encontrou entre os juncos, à margem do rio Nilo (Gn 2.10). É também o caso de José, marido de Maria, que fez de Jesus seu filho adotivo (Mt 13.55). No antigo Império Romano o cidadão que não tivesse filhos poderia adotar alguém que fosse do sexo masculino e adulto. De acordo com a perspectiva da lei, a pessoa adotada tornava-se nova criatura.
3.
No sentido teológico, adoção é o ato gracioso de Deus pelo qual os pecadores são reunidos à família dos redimidos, podendo então chamar Deus de “Aba” (termo aramaico para “Pai”) e os outros igualmente remidos de “irmãos”. Porque o pecado rompeu a relação inicial entre Deus e a criatura e porque Jesus fez a ponte outra vez, o pecador arrependido e justificado recebe o direito de se tornar filho de Deus. Trata-se de uma verdadeira adoção: Deus nos escolhe “para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Ef 1.5).
4.
A adoção é uma grande bênção porque envolve um relacionamento profundo com Deus. Sugere a ideia de família. Acaba com o medo, a insegurança, a incerteza e qualquer complexo de inferioridade. Charles Wesley, que viveu na Inglaterra na metade do século 18, dizia-se espantado com a adoção: “Eu, um escravo redimido da morte e do pecado, um tição arrancado do fogo, filho da ira e do inferno, ser chamado de filho de Deus!”. A adoção dá um novo e elevado “status” ao pecador, outrora miserável e abandonado.
5.
A adoção não é uma brincadeira, não é uma panaceia, não é um cheque sem fundo. O livro de Hebreus diz que Jesus, exatamente por ser o autor da salvação, não se envergonha de chamar de seus irmãos os que por ele foram salvos (Hb 2.10-13). Para um público não muito pequeno, Jesus declarou: “Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3.35). Logo após sua ressurreição, ele ordenou a Maria Madalena: “Vá a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês” (Jo 20.17).
6.
A passagem bíblica mais ousada sobre a doutrina da adoção é da lavra de Paulo. Depois de explicar que “o Espírito Santo de Deus fala no íntimo dos nossos corações, dizendo-nos que somos realmente filhos de Deus” (Rm 8.16, BV), o apóstolo conclui: “Se somos filhos, então somos herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8.17). Lida e relida com reverência e fé, essa apologia paulina da adoção levanta o ânimo do crente, aproximando-o da plenitude da salvação!
Fonte: Revista Ultimato
Site: www.ultimato.com.br